sexta-feira, 16 de maio de 2008

Desacordo ortográfico II.

E pronto, está aprovado. Já aqui tinha escrito, no texto de 24 de Abril, a minha opinião sobre este acordo ortográfico, mas permitam-me que deixe claro que estou convencido que vamos sobreviver. Ao passar os olhos pelas dezenas de comentários deixados à notícia no “Público” fiquei surpreendido pelos extremos a que chega a militância de algumas pessoas contra o acordo. Apesar de partilhar a orientação fundamental na opinião, detestaria que se visse na minha argumentação quaisquer sombras destes pouco sensatos laivos de reaccionarismo nacionalista.

Tenho pena que o acordo tenha sido aprovado, mas se e quando o seu conteúdo passar a vigorar não vai ser nenhum drama e tenho a certeza de que vamos todos habituar-nos à nova ordem mais depressa do que muitos pensam. A ortografia era diferente nos tempos do Eça, bem diferente nos tempos de Camões, e nada disso nos impediu, por um lado, de apreciar as respectivas obras nos nossos dias e, em segundo lugar, de defender a versão actual da ortografia da nossa língua contra este acordo. Para além disso, já agora, não me parece que venhamos, por isto, a ser anexados pelo Brasil.

Não é uma visão reaccionária que sustenta, insidiosa, a minha posição. Tenho até uma visão pouco carrancuda da mudança, como tentei mostrar no parágrafo anterior. No entanto, tal como escrevi naqueloutro texto, não consegui ver justificação para esta “actualização”. Tenho pena porque me parece que não é a língua por si mesma que pede esta mudança, mas outros considerandos que, ao serem invocados sob uma visão emoldurada de alarmismo, parecem justificar que se espezinhe os demais interesses na procura arquejante desse suposto bem premente.

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