quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Esperança?

Enche-se de esperança o mundo. Milhares de milhões de pessoas (quase todos os não-americanos e ainda a maior parte dos americanos) vêem neste momento histórico a chegada da mudança! Será que vai mesmo fazer diferença? Será que as coisas vão mudar? Será que vão assassinar Obama antes disso?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Previsões reveladas só depois do jogo.

Perdemos com a Alemanha, acabou o sonho. Chegou a altura de ver correr rios de tinta na imprensa, torrentes de píxeis na rede e verborreias nas televisões e rádios plenos de compenetradas análises iluminadas a posteriori. Encontram-se muitas ideias interessantes, mas há uma atitude que me parece completamente ridícula e com a qual me deparo mais vezes do que era sensato esperar. Sem me referir aos nomes dos seus mais leais alimentadores, o procedimento consiste, em linhas gerais, em aparecer após a derrota da selecção nacional de futebol a apontar, tão mais altivamente quanto maior for a importância do fracasso, uma série de razões que se consideram tão obviamente responsáveis pela derrota que será, com certeza, sinal claro de inferioridade intelectual dos responsáveis técnicos não as terem evitado a tempo. Tudo isto aliado ainda a um discurso de glorificação das capacidades do adversário. E, já agora, o futebol é só um exemplo deste tipo de postura, ela não se fica pela área do desporto.

Uma coisa é fazer a engenharia reversa de chegar às causas pela análise das suas consequências nefastas, no sentido de resolver os problemas responsáveis pelos maus resultados. Outra bem diferente, e bastante irritante, diga-se, é vir dizer só depois do leite derramado que se estava mesmo a ver que assim o leite ia derramar-se. Há que resistir a esta tentação certa depois do desaire. Seria bastante mais produtivo que se dedicasse mais tempo ao desenvolvimento de estratégias para corrigir erros verificados.

Alguns apressaram-se a louvar a eficácia germânica, mas eu diria que foi, na realidade, um daqueles jogos em que pode dizer-se melhor que o derrotado perdeu do que que o vencedor ganhou. Apesar da boa exibição de alguns dos seus jogadores e de uma ou outra excepção ao longo do jogo, o que vimos foi uma selecção alemã sem grande capacidade para criar verdadeiros lances de ataque. Os jogadores revelaram, aliás, um certo desgaste, cada vez mais aparente à medida que o jogo se aproximava do fim. Para além disso, permitiram ao nosso ataque várias jogadas de perigo, em que os portugueses apareceram em muito boa posição para alterar o marcador. Parece-me que a Alemanha não jogou bem, não acho que baste marcar três golos (dois dos quais, pelo menos, quase “oferecidos”) para se poder dizer isso. Por outro lado, a nossa selecção acabou por jogar pior, porque não basta atacar melhor para que se possa dizer que se jogou bem.

Parece-me que a selecção alemã não mostra futebol para voos muito mais altos. Fica a impressão de que o primeiro adversário com que se deparem que seja capaz de discutir as bolas altas dentro da sua própria área defensiva (a Croácia, será?) terá as melhores hipóteses de os deixar pelo caminho. Posso enganar-me, mas parece-me que têm a seu favor o poder físico e pouco mais.

De qualquer forma, eu considero-me satisfeito com a prestação da nossa equipa, apenas ensombrada pela incapacidade revelada ontem naquelas bolas paradas postas a sobrevoar o coração da nossa grande área defensiva. Mostrámos futebol de qualidade, marcámos golos e só não merecemos passar à fase seguinte da competição por essa lamentável falha defensiva. O futebol português é claramente, hoje em dia, muito forte.

Entretanto, Scolari sai e deixa atrás de si uma história de bons resultados. Sentirá, com certeza, um certo amargo de boca por este resultado à saída, que poderia ter sido melhor. Penso que ele é um dos responsáveis pelo facto de os portugueses não estarem já habituados a ficar pelos quartos-de-final. Até há relativamente pouco tempo na história do nosso futebol o sonho seria chegar cá; por estes dias sonhamos sempre, à partida, legitimamente, com a final.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A história das coisas

A consciência ambiental das sociedades aumenta de dia para dia, pelo que vejo à vinha volta. Estamos a atingir uma situação em que é impossível ficar indiferente aos alertas dos especialistas da área, que se tornaram perfeitamente consensuais. Os sinais na sociedade vêm também de cima, de governos e grandes empresas, para alguns ainda insuficientes, para outros na medida do possível. São alterações que não podem operar-se instantaneamente; terão uma implantação gradual, mas querem-se ao ritmo mais rápido possível.

Acredito que temos motivos para estar optimistas. Os ambientalistas fazem o seu papel, erguem e agitam os braços na ávida tentativa de chamar mais atenções para esta causa global. Devemos-lhes isso. Mas, aparentemente, temos ainda tempo para inverter a tendência negativa, se seguirmos e acelerarmos o caminho que estes sinais apontam.


Com uma ressalva para a necessidade de evitar exageros desesperados, recomendo o excelente vídeo que se encontra no sítio “The story of stuff”, um alerta exemplar para estes assuntos. Como diz, no vídeo, Annie Leonard o actual estado de coisas não é irreversível, não foi estabelecido pela natureza mas antes por nós próprios. Cabe-nos agora reconhecer o erro e corrigi-lo. Antes que seja tarde!

Já agora, aproveito para chamar a atenção para a agência criativa responsável pela produção do vídeo, a “Free Range Studios”. Preocupam-se com coisas importantes, merecem, sem dúvida, que se dê uma vista de olhos à página deles.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Desacordo ortográfico II.

E pronto, está aprovado. Já aqui tinha escrito, no texto de 24 de Abril, a minha opinião sobre este acordo ortográfico, mas permitam-me que deixe claro que estou convencido que vamos sobreviver. Ao passar os olhos pelas dezenas de comentários deixados à notícia no “Público” fiquei surpreendido pelos extremos a que chega a militância de algumas pessoas contra o acordo. Apesar de partilhar a orientação fundamental na opinião, detestaria que se visse na minha argumentação quaisquer sombras destes pouco sensatos laivos de reaccionarismo nacionalista.

Tenho pena que o acordo tenha sido aprovado, mas se e quando o seu conteúdo passar a vigorar não vai ser nenhum drama e tenho a certeza de que vamos todos habituar-nos à nova ordem mais depressa do que muitos pensam. A ortografia era diferente nos tempos do Eça, bem diferente nos tempos de Camões, e nada disso nos impediu, por um lado, de apreciar as respectivas obras nos nossos dias e, em segundo lugar, de defender a versão actual da ortografia da nossa língua contra este acordo. Para além disso, já agora, não me parece que venhamos, por isto, a ser anexados pelo Brasil.

Não é uma visão reaccionária que sustenta, insidiosa, a minha posição. Tenho até uma visão pouco carrancuda da mudança, como tentei mostrar no parágrafo anterior. No entanto, tal como escrevi naqueloutro texto, não consegui ver justificação para esta “actualização”. Tenho pena porque me parece que não é a língua por si mesma que pede esta mudança, mas outros considerandos que, ao serem invocados sob uma visão emoldurada de alarmismo, parecem justificar que se espezinhe os demais interesses na procura arquejante desse suposto bem premente.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Bem agarrado ao poder.


Muito mal se conta no Zimbabué. Os partidários do ditador Mugabe estiveram mais de quatro semanas a “tentar” contar os votos das eleições presidenciais e parlamentares, para depois anunciarem a vitória do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) de Morgan Tsvangirai. Provavelmente, obtiveram repetidamente o inexplicável resultado da perda da maioria parlamentar do partido Zanu-PF, levando-os a fazer verificações sucessivas das contagens. É que este resultado é perturbantemente extraordinário quando se pensa que as eleições foram por eles fabricadas à partida.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Setas desgovernadas.

O PS pode, por estes dias, dar-se ao luxo de ver o seu António Vitorino defender, nas notas que solta na RTP, que ele próprio gostaria de ver um PSD mais forte, sob pena de deixar o governo sem a pressão de um adversário que represente uma alternativa credível. Há regozijo entre as hostes socialistas. Assim anda o PSD, atingido pela suprema humilhação de ver o próprio adversário desejar, complacentemente, que se organize, quando não sabe sequer quantas setas tem no símbolo.

Entretanto, no plano interno as atenções parecem fundamentalmente polarizadas entre Manuela Ferreira Leite, com o seu estilo maquinado de dama cinzenta pretensamente obcecada pelo rigor, e o possível avanço de Jardim, o seu perfeito oposto, um espectáculo ambulante de exagero insultuoso, aparentemente leviano. Aliás, parece-me que a antítese das suas imagens vai além desta básica comparação de estilos. Senão, aprofunde-se um pouco mais o que representa cada figura. Ferreira Leite é a seriíssima personalidade responsável pelo estado de coisas que culminou naquela situação financeira do país que explodiu no governo de Santana Lopes. João Jardim, por seu lado, é o histriónico personagem responsável pela evolução sustentada do arquipélago da Madeira de território pobre periférico para zona de desenvolvimento concertado com o da média da União Europeia. Estamos, portanto, perante uma dupla oposição, deixando os partidários de cada lado sem outra hipótese que não seja glorificar o lado do seu líder que mais o favorece.

Jardim andará, provavelmente, a tentar descobrir se o seu estilo, tolerado nas ilhas, não o aniquilará no continente. Manuela Ferreira Leite, pelo contrário, começou já a dar ares da sua graça, com uma linguagem pejada de preocupações difusas mas obstinadas, impregnadas de um espírito de missão sebastiânico. Os seus apoiantes desfazem-se em brados de "seriedade", "força", "respeito", "competência", "experiência", "rectidão", "exigência" e outros "-ãos" e "-ências" afins. Quem se lembrará ainda daquela remota crise que sucedeu à sua ocupação da cadeira das finanças no tempo de Durão Barroso? A imagem é tudo, o passado já lá vai.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

34 anos.


"Não me obriguem a vir para a rua gritar."

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Desacordo ortográfico.

Ainda nenhum argumento conseguiu convencer-me de que este proposto acordo ortográfico será benéfico para a nossa língua. E tenho ouvido vários, uns mais sensatos que outros.

Um que não consigo deixar de contestar, escolhido mais ou menos ao acaso entre outros dignos de discussão, é o de que a língua portuguesa é uma língua difícil de aprender, para falantes nativos e, principalmente, estrangeiros, pelo que devemos tentar simplificá-la. Todos crescemos com essa convicção, não é verdade? É do género daquela outra que nos convence de que os portugueses são um povo com um jeito natural para o desenrasque. Enfim, voltando à questão posso dizer que tive contacto com várias línguas estrangeiras, mesmo para além daquelas óbvias que se encontram numa viagem daqui, através da Europa, até ao antigo limite com o leste comunista, e gostava de informar que há por aí muita língua com gramática complicada. Estamos habituados a comparar o português com o inglês e a assumir instantaneamente ares de superioridade pela simplicidade gramatical desta, já, linguagem global. Pois para além do facto de a nossa não ser a língua mais complicada do mundo (se é que comparações destas têm, sequer, algum sentido), parece-me também que falar bem inglês não é tão fácil como tanto se apregoa. Será argumento dizer que temos uma língua complicada? No mínimo, com a simplificação ortográfica há-de chegar também um empobrecimento da língua portuguesa em geral.

Um olhar panorâmico sobre a posição geral dos diferentes países lusófonos parece revelar uma opinião geral dividida ou mesmo desfavorável em Portugal, um Brasil entusiasmadíssimo com a ideia e um resto de paisagem mais preocupada com outro tipo de problemas, para eles mais importantes. A posição do Brasil não surpreende, é mesmo do tipo de coisa de que eles gostam, em geral, e, neste assunto específico, até já têm vindo a adiantar trabalho nos últimos anos. Vejam-se os números, que já andam por aí, da percentagem de alterações que o acordo implica em Portugal e no Brasil. Cerca de três vezes mais por cá, não é? Querem agora aqui, no rectângulo fundador da lusofonia, seguir a candeia que vai à frente e que, por isso, alumia duas vezes.

Pelo que vejo, a facção favorável ao acordo alicerça a sua posição, afinal de contas, no objectivo de nos proteger do desprestígio de vermos o Brasil, num futuro mais ou menos próximo, arrastar a sua versão do português escrito para a ribalta (diz-se que a fonia, não percebo bem como, é para manter diferente), atrelado ao crescimento da sua posição no mundo económico (que é o que conta, nos tempos que correm). Se não podes vencê-los, junta-te a eles, não é? Pelo contrário, a “resistência” parece preocupar-se com o código ortográfico propriamente dito, vejam lá!


Por isso e porque, entre outras complexidades, as consoantes não articuladas existem por razões e regras de que me sirvo para evitar erros, prefiro correr o risco de ver, um dia, este nosso jardim à beira-mar plantado exibir, orgulhosamente só, uma ortografia que não retire recursos aos nossos poetas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O cão de Habacuc.

O artista costa-riquenho Guillermo “Habacuc” Vargas tornou-se recentemente mundialmente famoso por uma obra que expôs em Agosto de 2007, na sua "Exposición No. 1", na “Galería Códice” em Manágua, capital da Nicarágua. Para quem ainda não ouviu falar dela, é mais conhecida por “a exposição do cão” e a obra polémica consistia em manter um cão faminto e doente recolhido das ruas da cidade, com várias úlceras visíveis na pele do dorso, amarrado com uma corda a um canto da sala. A instalação não se resumia a esta situação, mas os restantes aspectos são irrelevantes para o caso, com excepção talvez do facto de incluir ainda comida de cão colocada fora do alcance do animal.

Não posso afirmar que tenha lido muito sobre o assunto, mas uma pesquisa directa na internet parece revelar uma maioria esmagadora de opiniões negativas (incluindo verdadeiros acervos de raiva contra Habacuc e a “Galería Códice”), entremeadas por petições apelando ao boicote do trabalho de Habacuc. Para isso também terá contribuído a abordagem dos meios de comunicação social menos sérios, que aproveitaram para passar uma sensacionalista história de um cão maltratado a morrer na galeria, versão não confirmada por qualquer fonte fidedigna. Enquanto o artista afirmava que no plano artístico o cão morreu, como era sua intenção inicial, e no plano da realidade se reservava o direito de não responder, ou qualquer coisa por estas linhas, a galeria afirmou que o animal foi alimentado normalmente, com excepção de um intervalo de três horas em que fez parte da instalação exposta, e que acabou por fugir mais tarde.

Por meu lado, repudio quaisquer maus-tratos a animais e é por isso mesmo que quero defender esta obra, que me parece conter uma mensagem social com valor. Segundo o artista, ninguém foi impedido de pôr a comida ao alcance do cão ou de o libertar e, no entanto, naquela situação ninguém o fez. Suspeito que muitas das pessoas que correm agora a assinar as petições contra o trabalho de Habacuc desviam os olhos quando vêem animais em estado semelhante na rua. O artista descontextualizou a imagem do cão vadio doente e faminto, transportando-a para um ambiente que está normalmente livre de tais situações embaraçosas, como que gritando aos ouvidos dos visitantes que é seu hábito virar a cara e continuar indolentemente o seu caminho.

Pode ser que seja mentira o que disseram os responsáveis da galeria, pode ser que Habacuc tenha deixado o cão morrer de fome, mas isso continua a ser menos importante do que a força com que ele conseguiu fazer passar a mensagem. Um cão pode ter sido maltratado naquela exposição, mas muitos outros poderão beneficiar da atitude renovada de pessoas a quem a mensagem tiver chegado. Parece-me que Habacuc fez mais com esta exposição pela honrada causa da defesa dos direitos dos animais do que todas estas associações juntas. Canalizam agora esforços para a recolha de assinaturas para as suas petições em vez de apontarem a instalação de Habacuc como um excelente espelho onde podemos ver a nossa vergonhosa indiferença.

Olá.

Muito boas tardes! Estamos mesmo naquele limite entre a manhã e a tarde (esse limite é mesmo o meio-dia, não é? ou será o almoço? bem, fico-me com o meio-dia) e escolho abrir com as "boas tardes" para não parecer agarrado ao passado, antes virado para o futuro. São pormenores que contam para o leitor, mesmo que a um nível subconsciente, julgam que não? Bem, já está, com isto começámos. Até breve!